31 de março de 2009

Sulanga Enu Pinisa (2005)








O Sri Lanka, num pós-guerra, numa terra com pouca gente…o silêncio…”Terra Abandonada”.
Um homem, a sua mulher, a sua irmã, um velho e uma menina. A mulher põe-lhe os cornos ao homem com um soldado que fuma charros com o marido e a irmã deste não consegue arranjar marido. O velho tem um passado estranho e só fala da sua mulher já morta. A miúda gosta de ouvir o velho e andar pela terra e pelo bosque como que a explorar território. Vimukthi Jayasundara escreveu e realizou um filme lento, lírico, que recorre muito às expressões corporais, com uma história que a princípio parece simples e sem nexo, mas que ao longo da obra se vai desenvolvendo, desdobrando e se revela mais complexa do que pensamos. Não é uma obra fácil, não é para qualquer pessoa, é arte no cinema e cinema deste tipo não agrada a qualquer um.













29 de março de 2009

Kolya (1996)


Aqui está uma obra simples sobre o amor, a amizade e a descoberta destes. Em plena ocupação soviética da Checoslováquia, mais precisamente no ano de 1988, em Praga, um homem de meia-idade, Louka (Zdenek Sverák), violoncelista, solteiro por opção, encontra-se com problemas financeiros depois de ter sido demitido da Filarmónica. Para combater essa crise financeira que o persegue, Louka toca em funerais e vai restaurando lápides. Um dia, Broz (Ondrej Vetchý), o coveiro, propõe-lhe um casamento falso com uma russa, a sua sobrinha, com a finalidade desta conseguir cidadania Checa. Com uma dívida razoável e a necessidade de comprar um carro, Louka aceita a proposta embora vá contra os seus princípios. Mas, dois dias depois do casamento, a rapariga russa foge para a Alemanha Ocidental deixando o seu filho Kolya (Andrei Chalimon) com a tia. A tia, a quem o garoto chama de avó, tem um ataque e o garoto tem de ir para os cuidados de Louka. A tia morre e Louka terá de ficar indeterminadamente a tomar conta da criança. Louka é-nos apresentado como um homem que não gosta de crianças, mulherengo, solitário e complicado. A relação com Kolya vai mudar a sua visão da vida, vai trazer-lhe um sentimento que ele julgou não ter. Vai trazer-lhe afecto e amor pela criança. A certa altura do filme, Kolya começa a tratá-lo por pai e é nítida a reacção de surpresa e de preocupação que Louka demonstra. A verdade é que Louka não queria apegar-se à criança, mas acaba por se apegar.
Vindo da República Checa, foi vencedor do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1997 e surpreendeu-me muito pela simplicidade da construção narrativa não obstante a um argumento sólido e de qualidade. A sua fotografia e a música, clássica, tornam o filme mais belo e mais rico. Jan Sverak realizou um filme que nos fala de amor e de amizade em tempos difíceis. “Kolya” é uma fábula simples, divertida e apaixonante que vem de um país onde o cinema não tem grande expressão artística no mundo. Mas o que é certo é que “Kolya” é a prova de que também aqui se podem fazer bons filmes.


Casa de Lava (1994)


Inês de Medeiros foi, sem dúvida, e continua a ser uma das melhores actrizes portuguesas. Nesta obra deparamo-nos com uma Inês perdida, depressiva, confusa, brilhante, determinante, enigmática…. É para mim, dos que vi, o seu melhor trabalho e compreende-se quando sabemos que por detrás da câmara está um senhor chamado Pedro Costa. Mas relativamente a este “Casa de Lava” que já data de 1994, Pedro Costa traz-nos uma história complexa e triste. É a procura por um significado da vida que está mais latente na obra, a missão de curar e ser curada, a compaixão, a miséria, a alegria, a música e Cabo Verde. O crioulo e o português a misturarem-se como se mistura azeite com as batatas, Mariana (Inês de Medeiros) numa tentativa incessante de trazer Leão de volta do coma, o envolvimento desta com os habitantes daquela aldeia, a solidão, o incompreensível relacionamento entre toda a gente, o passado das pessoas a ser remexido e remexido, o álcool como anestesiante numa comunidade entediante e limitada. “Casa de Lava” assenta sobretudo nas escolhas, na vontade e na capacidade. Reflecte no suicídio e questiona o verdadeiro significado de vida e morte. Quem está morto afinal? E quem está vivo? O que é a vida? Vale a pena ser vivida? Será melhor estar morto ou estar vivo? Paradoxos, enigmas… melhor, enigmas paradoxais… ou será paradoxos enigmáticos?!!!


28 de março de 2009

Pearl jam - Black live

E porque lançaram uma nova reedição do Ten aqui fica uma música desse álbum ao vivo. Já tens uns aninhos....


26 de março de 2009

Camino (2008)


“Camino” de Javier Fesser assume aqui uma crítica à Opus Dei, uma instituição da Igreja Católica que pretende divulgar a mensagem de que se pode encontrar Deus no trabalho e na vida quotidiana. Esta obra espanhola ganhou seis Goya, os prémios mais prestigiados do cinema espanhol, depois de ter estado nomeado para sete.
A história de “Camino” é baseada em factos reais, mais precisamente numa menina de 13 anos chamada Alexia González-Barros. Aqui no filme, Fesser dá o nome de Camino a essa menina, adquirindo assim o título da obra um duplo significado, o nome da menina e o caminho que ela vai percorrer até à sua morte. É claramente uma censura à igreja católica e principalmente a essa instituição Opus Dei. Neste caso, esta instituição serve-se da doença de Camino para fazer dela uma mártir. O filme começa com os instantes finais da vida da menina, no quarto da clínica onde se encontra estão uma ou duas dezenas de pessoas para assistirem à sua morte, por ela anunciada como que a assistir à entrada da menina no reino dos céus. Depois, a história recua 5 meses atrás para nos contar todo esse caminho de Camino até à sua morte.
Fesser vai contra Deus, nomeadamente nos sonhos de Camino com Mr. Meebles, um ser extraordinário mas que tem um problema, o de não existir, criando aqui uma relação com Deus. No pesadelo de Camino em que é largada pelos pais e a irmã no meio de uma estrada inóspita, Fesser cria aqui o desespero da menina originado pelo comportamento principalmente da mãe, que desiste logo à partida da filha para a oferecer a Deus. Camino sente-se desapoiada, sozinha e Fesser explora essa dor, esse sentimento atroz numa menina de 13 anos que mais do que tudo queria ter o amor de Jesus, um miúdo da sua idade. Aqui se cria a crítica construtiva do filme para com a Opus Dei que alegoricamente cria a relação amor a Jesus que supostamente Camino transmite ao padre, confundida por este já que esse Jesus é o miúdo e não a personagem religiosa.


As interpretações são muito boas, mas é a de Nerea Camacho (Camino) que se destaca, estando completamente brilhante, fabulosa e angelical. A realização é também muito boa e Fesser cria uma obra alegórica, chocante, cruel, onírica e contra a igreja, a Opus Dei e o fundamentalismo religioso em que a Espanha está mergulhada.
“Camino” é polémico e inesquecível, é uma crítica ao fanatismo e obscurantismo religioso mas é também uma reflexão ao amor e à redenção humana.


25 de março de 2009

Karhozat (1988)

Vazio, o nada, corpos deambulando por uma Hungria decadente, apocalíptica e uma obsessão por uma mulher casada. Música, danças e mais danças, um preto e branco que mostra uma história sem esperança alguma, um homem que procura essa esperança e uma mulher que foge dela. O caos, a chuva, a arte de filmar de Béla Tarr, o fascínio de uma obra negra e incontrolável. “Karhozat” ou “Damnation” em inglês data de 1988 e é cinema que explode nos nossos olhos, é algo intransmissível para a compreensão do espectador, são planos correntes de corpos vazios numa normalidade incompreendida e de uma procura interior que nunca chega. O silêncio. O cinema na sua realidade.



24 de março de 2009

Ana Moreira

E como é a minha actriz portuguesa preferida a par da Leonor Silveira, aqui fica um video que encontrei no YouTube com a música de um dos meus grupos preferidos actuais, os Sigur Rós. Que coincidência.


No Quarto da Vanda

De Pedro Costa



21 de março de 2009

Revanche (2008)


Ironia do destino. Dois casais… o primeiro, um homem, Alex (Johannes Krisch) e uma prostituta, Tamara (Irina Potapenko). O segundo, um polícia, Robert (Andreas Lust) e a sua esposa, Susanne (Ursula Strauss). O primeiro, citadino de Viena, assalta um banco para fugir da prostituição e do chulo Konecny (Hanno Pöschl). O segundo é apanhado na corrente quando no assalto, Robert, o polícia, se depara com Tamara dentro do carro. Na fuga, Robert dispara e acerta em Tamara. Esta morre, Alex larga o carro com o cadáver no bosque e refugia-se em casa do avô (Johannes Thanheiser) que mora perto do polícia no campo. Susanne, a esposa do polícia, tem pena do velho e visita-o regularmente para ir à missa e ouvi-lo tocar (se é que podemos dizer) acordeão. Este casal rural quer filhos mas ela já abortou e parece que o problema é do polícia, mas ela não desiste e quando vê Alex, descobre uma oportunidade para ter o tão desejado filho. E mais não digo.


Gostei do filme, gostei do início onde vemos o que pensamos ser uma pedra cair num lago calmo envolvido por um bosque cheio de árvores. Gostei de lá para o meio perceber que afinal não era nenhuma pedra quando o início do filme é retomado naquele bosque fazendo-me lembrar o “Goodfellas” do Scorsese. Gostei da fotografia, das interpretações, principalmente as de Krisch e de Ursula. Gostei do argumento, não muito complexo mas coerente e consistente. Gostei da linha narrativa que nunca se perde em pormenores que não interessariam. Não é nenhuma obra-prima, nem de longe nem de perto, mas é um filme bem conseguido e com um argumento plausível que não envereda por caminhos desnecessários, ou seja, se este fosse um filme de Hollywood, aposto que teríamos muita acção e muitos tiros. Como é austríaco, a história é outra….



20 de março de 2009

GRUZ 200 (2007)






Numa URSS industrial dos anos 80, aquando da guerra do Afeganistão, a chegada de feridos e mortos do Afeganistão denominava-se de Gruz 200. Resumindo e concluindo, “Gruz 200” de Aleksei Balabanov é uma crítica e uma visão dum comunismo soviético em pleno auge de corrupção social, política e militar. Fantástica reflexão aos hábitos, ideais e abusos de poder de um regime que militou durante décadas.


19 de março de 2009

iklimler (2006)



Esta é para mim a obra mais cuidada e mais aprimorada de Ceylan. Neste “iklimler” (Climas), o cineasta brinda-nos com planos visuais completamente brilhantes. Sejam planos longos, de paisagens maravilhosas, na linha de “Uzak” (Distante) de 2002, mas também planos curtos, à boa maneira de Sergio Leone, que nos transpõem para dentro da tela. A história é simples, um casal que começa a ter problemas em viver conjuntamente. Vem a separação, e, a partir desta a história centra-se em Isa (Nuri Bilge Ceylan) e o seu arrependimento na separação, a sua procura por Serap (Nazan Kirilms) a causadora do clima estranho que se foi criando entre os dois cônjuges e que ditou a separação. Isa recebe a notícia de que Bahar (Ebru Ceylan), a ex-mulher, está numas filmagens no leste e este decidi viajar até lá para tentar reconciliar o relacionamento. Por trás deste argumento escondem-se as razões dos personagens nos seus actos. Isa parece-me incapaz de manter um relacionamento com quem quer que seja, é solitário e demasiado egocêntrico. Quer mudar, mas não consegue, a ideia de casar e ter filhos assusta-o e faz com que fuja desse propósito. Isa vive em constante conflito sobre o amor, vive sem saber o que quer, complica aquilo que é simples. Quanto a Bahar é o oposto, ama e quer ser amada, mas não só no momento, quer ter uma vida a dois, mas não consegue suportar o ambiente que se cria entre os dois. O filme é pautado pelo silêncio, pela linguagem corporal e Ceylan consegue criar uma obra complexa e visualmente fabulosa. A fotografia é espantosa e os planos brilhantes. As interpretações quer do cineasta quer da mulher Ebru Ceylan estão muito boas. Ceylan consegue criar um ambiente negro e claustrofóbico entre o casal, o que vem a beneficiar o filme de forma extraordinária. Embora tenha gostado muito de "Uzak", este supera-o tanto na complexidade da obra como na arte de filmar. Muito bom.


18 de março de 2009

Into The Wild (2007)


É de facto uma maravilha ver obras-primas que nos tocam e nos deixam a reflectir no significado da vida, da liberdade, dos valores morais e éticos, e por aí adiante. Ver este filme do recente galardoado Sean Penn deixou-me completamente extasiado. Por dias não consegui escrever aquilo que na realidade senti e compreendi desta obra. Talvez excessiva a conduta de Christopher McCandless (Emile Hirsch) para com a sociedade, mas na verdade não pude deixar de me identificar com o seu alter-ego Alexander Supertramp quando renuncia a todo o materialismo e prazeres da vida e abraça esse estado espiritual e natura em que se rege para daí tirar os seus frutos essenciais à sobrevivência e nada mais. “Into The Wild” é uma ode à liberdade, à natureza, uma reflexão ao instinto de sobrevivência e determinação de um indivíduo, um ensaio de coragem e estupidez de quem precisou “fugir do mundo” e da sociedade para perceber que “Happiness is only real when shared” (a felicidade só é real quando partilhada). Christopher percebeu-o já tarde e de forma dura, mas é impossível censurarmos completamente esta figura rebelde e extremista, muito por culpa de Sean Penn que o transporta para o ecrã como um “anjo” que agrada a todos com quem contacta. A verdade é que essa imagem que Penn nos traz de Christopher até nos agrada, faz-nos sentir uma admiração pela coragem e destreza deste jovem inadaptado numa sociedade consumista e materialista que embora podre e corrupta é única. Christopher quis fugir desse mundo, dessa sociedade, mas aprendeu duramente que não há como fugir dela, pois uma vida solitária cria um vazio na alma por muito saudável e moralmente reconfortante que seja. Ele percebe já tarde que a única maneira é adaptar-se a esse mundo que tanto desprezava. A natureza é bela mas é também selvagem e perigosa.



CHRISTOPHER McCANDLESS (1969-1992)



Na verdade, não posso deixar de comparar este Christopher a Zaratustra e seu Super-Homem, de Nietzsche, já que ambos se retiram do mundo numa procura de uma espiritualização e soledade, na procura de uma melhor compreensão do mundo e de uma liberdade. De facto, há uma alusão a esse Super-Homem no filme, quando Christopher numa ponte a comer uma maçã diz: “És mesmo boa. És tipo…cem mil vezes melhor que qualquer maçã que já tenha comido. Não sou o Super-Homem, sou o Super-Vagabundo (Supertramp). Tu és a Super-Maçã.”


Sean Penn surpreendeu-me e muito com esta obra. Emile Hirsch também, está magnífico no papel de Christopher. Boa montagem e excelente fotografia, as paisagens são lindas e completam o filme quando as vemos ao som da música fantástica do Eddie Vedder, para quem não conhece é o vocalista dos Pearl Jam. É um filme que ficará na história do cinema, obra-prima de grande qualidade.


17 de março de 2009

MORAL COMO CONTRANATUREZA


1

"Todas as paixões têm um tempo em que são meramente nefastas, em que aviltam suas vítimas com o peso da estupidez; e um tempo posterior, muito posterior, em que se casam com o espírito, em que se "espiritualizam". Outrora, em virtude da estupidez na paixão, combatia-se a própria paixão: conjurava-se para a sua aniquilação. Todos os antigos monstros da moral são unânimes quanto a isso: "il faut tuer les passions". A formulação mais famosa desta sentença encontra-se no Novo Testamento, naquele Sermão da Montanha, no qual, dito de passagem, as coisas não foram consideradas de modo algum desde o alto. Aí mesmo, por exemplo, diz-se com respeito à sexualidade: "Se teu olho te escandaliza, arranca-o fora". Por sorte nenhum cristão age segundo este preceito. Aniquilar os sofrimentos e os desejos, apenas para evitar sua estupidez e as consequências desagradáveis de sua estupidez, apresentasse-nos hoje como sendo mesmo apenas uma forma aguda desta última. Não passamos a admirar mais os dentistas que arrancam os nossos dentes, para que eles não doam mais... Por outro lado, é preciso confessar com alguma equidade que, sobre o solo de crescimento do Cristianismo, o conceito de "Espiritualização da Paixão" não podia ser concebido de forma alguma. Como é de facto reconhecido, a igreja primitiva lutou contra os "Inteligentes" em favor dos "Pobres de Espírito": como seria possível esperar dela uma guerra inteligente contra a paixão? - A igreja combate o sofrimento através da extirpação em todos os sentidos: sua prática, seu "tratamento" é o da castração. Ela nunca pergunta: "como se espiritualiza, se embeleza, se diviniza um desejo?" Em todos os tempos, ela pôs a ênfase da disciplina na supressão (da sensibilidade, do orgulho, do desejo de domínio, de posse e de vingança). - Mas atacar os sofrimentos na raíz é o mesmo que atacar a vida na raíz: a praxis da igreja é inimiga da vida...


3

A espiritualização da sensibilidade chama-se amor: ela é um grande triunfo sobre o Cristianismo. Um outro triunfo é a nossa espiritualização da inimizade. Ela consiste em se compreender profundamente o valor que possui o facto de se ter inimigos. Em resumo: frente ao modo como se agia e concluía outrora, se age e conclui agora inversamente. A igreja sempre quis, em todos os tempos, a aniquilação dos seus inimigos: nós, imoralistas e anticristãos, vemos nossa vantagem no facto de que a igreja subsiste... No campo político, a inimizade também se tornou agora algo mais espiritualizado. Muito mais prudente, muito mais meditativo, muito mais cuidadoso. Quase todos os partidos compreendem que os interesses de sua autoconservação apontam para a necessidade dos partidos opositores não perderem suas forças; o mesmo vale para o grande político. Uma nova criação sobretudo, algo como um novo império, tem os inimigos como mais necessários do que os amigos: somente na oposição ele se sente necessário, somente na oposição ele se torna necessário... Nós não nos comportamos de modo diverso frente ao "inimigo interior": também aí espiritualizamos a inimizade, também aí compreendemos seu valor. É preciso ser rico em oposições, e só pagando esse preço que se é fecundo; só se permanece jovem sob a pressuposição de que a alma não se espreguiça, não anseia pela paz... Nada nos parece mais estranho do que o que era desejável outrora, o que era desejável para o cristão: a "paz da alma". Nada nos deixa menos invejosos do que a vaca moral e a felicidade balofa da boa consciência. Renunciou-se à vida grandiosa quando se renunciou à guerra: Em muitos casos, por sorte, a "paz da alma" é apenas um mal-entendido, - algo diverso que apenas não sabe se denominar de um modo mais honroso. Sem rodeios e preconceitos, aqui temos alguns casos. A "paz da alma" pode ser, por exemplo, a irradiação suave de uma animalidade rica no interior do campo moral (ou religioso). Ou o começo da fadiga, a primeira sombra que a noite lança, qualquer tipo de noite. Ou um sinal de que o ar está húmido, de que o vento sul se aproxima. Ou a gratidão inconsciente por uma digestão feliz (às vezes chamada "amor aos homens"). Ou a aquietação do convalescente, para o qual todas as coisas possuem um novo sabor, e que espera... Ou o estado que segue a um intenso apaziguamento da nossa paixão dominante, o bem-estar de uma saciedade rara. Ou a senilidade da nossa vontade, dos nossos desejos, dos nossos vícios. Ou a preguiça, convencida pela vaidade a adornar-se moralmente. Ou a entrada em cena de uma certeza, mesmo de uma certeza terrível, depois da tensão e do martírio produzidos pela incerteza. Ou a expressão da maturidade e do domínio em meio ao agir, criar, efectivar, querer, o respirar tranquilo, a "Liberdade da Vontade" alcançada... Crepúsculo dos Ídolos: quem sabe? Talvez também apenas um tipo de "Paz da Alma"..."
Friedrich Nietzche
"Crepúsculo dos Ídolos"

Once Upon A Time In America (1984)



Obra-prima de Sergio Leone, curiosamente fora do estilo que o imortalizou como um dos grandes génios do cinema, o western spaghetti. Aquando da sua estreia, o filme foi “mutilado” (palavras de Sergio Leone), tendo sido exibido numa versão de 139 minutos, cerca de hora e meia a menos do que a versão completa e que foi lançada em vídeo.
Mais do que um filme, “Once Upon A Time In America” é uma ode à amizade, um hino ao amor, um olhar penetrante à traição e à inveja, uma reflexão sobre confiança e ambição e um retracto da ascensão e a queda do mundo da máfia judaica. Já muito se disse sobre este filme, mas nunca é demais contemplar esta obra-prima de Leone. Posso ser muito criticado pelo que se segue, mas a verdade é que para mim esta relíquia do cinema americano é superior a “The Godfather” (O Padrinho) de Francis Ford Coppola. Talvez devido à altura em que o vi pela primeira vez e por me ter marcado muito, mas também porque é um filme mais sublime, mais melancólico, mais completo e nostálgico. Enquanto o filme de Coppola na sua grandiosidade e plenitude se cinge à família, este não. “Once Upon A Time In America” apresenta-nos valores morais, amizade, amor, crime, traição, confiança e a infância. É daquelas obras cinematográficas que se vê e revê vezes sem conta sem desiludir ou maçar. Sergio Leone era um mestre com a câmara nas mãos e o filme está repleto de planos longos espantosos, sem falar nos close ups fenomenais a que Leone nos habituou. Ennio Morricone em sintonia absoluta com Sergio Leone mais uma vez. A fantástica banda sonora de Morricone faz as lágrimas virem aos olhos nas mais variadas cenas do filme e, a meu ver, consegue aqui uma das suas melhores composições a par da de “Cinema Paradiso” de Giuseppe Tornatore.
O filme traz-nos a história de dois amigos desde o virar do século XIX para o século XX, passando pelos anos 30 durante a famosa Lei Seca até os anos 50. É a história de Noodles (Robert de Niro) e Max (James Woods) que Leone nos traz com este “Once Upon A Time In America”. É uma história de amizade, da perda desta, de traição, ambição e amor. A violência que o filme acarreta é lhe imposta devido às épocas em que a história se insere e claro, a um dos temas do filme, a máfia judaica, aquela que antecedeu a famosa máfia italiana. O que Leone nos mostra é que na viragem do século e durante a Lei Seca, os mafiosos eram pequenos gangs organizados que actuavam sozinhos, aqui no filme são apenas quatro amigos, e quando o mundo da máfia começa a mudar (depois do aparecimento da máfia italiana e irlandesa), Noodles permanece fiel ao seu estilo, facto que vai contra a ambição de Max, que quer mais poder e mais dinheiro. É aqui que realmente a traição começa. É aqui que Leone nos mostra a ambição de Max, que faz com que traia os amigos. Quando recebem uma proposta para abrirem um negócio apoiados pelo sindicalista Jimmy “Mãos-Limpas”, Noodles rejeita logo à partida enquanto Max fica tentado pela ideia e com vontade de entrar no negócio. Na discussão, Max diz a Noodles que ele há-de cheirar a rua o resto das vidas, ou seja que não há-de passar de um pequeno criminoso. A resposta de Noodles é bem elucidativa da diferença de ambição entre os dois, dizendo-lhe “ Eu gosto do cheiro das ruas. Faz-me sentir bem. Gosto do cheiro. Abre-me os pulmões. E dá-me tesão.” É aqui, embora Max vá atrás dele e decida ir com ele passar férias na praia, que o pensamento de Max começa a direccionar-se para a sua única saída com vista a tornar-se um homem poderoso. A partir deste momento, Max toma consciência que continuando com Noodles e os outros dois, nunca virá a ter o poder que sempre desejou. Por isso, concorda com Noodles e acompanha-o justamente para pensar numa maneira de os largar. Em relação ao outro tema do filme, o amor, descobrimos no fim do filme que Max é apaixonado por Deborah desde criança, o grande amor de Noodles. Embora Deborah fosse também ela apaixonada por Noodles, este amor nunca poderia dar certo devido à ambição de Deborah em ser uma grande actriz. De facto, Max e Deborah eram muito parecidos, talvez por isso acabem juntos. No fim do filme percebemos que Noodles tinha apenas uma ambição, o amor por Deborah. Foi esse amor que o ajudou a superar os anos na prisão, é esse amor e o desespero de o perder sem nunca o ter tido realmente que leva Noodles a violar Deborah depois de ela lhe dizer que ia para Hollywood. Mas é no início do filme, ou melhor, na primeira das três épocas do filme, a infância, que Sergio Leone nos oferece as melhores cenas sobre o amor de Noodles por Deborah. É durante as cenas em que Noodles observa a sua amada dançando ballet que a beleza do filme está mais latente. Mais mágico, mais belo ainda é ver que Deborah sabia que Noodles a observava. É das cenas mais lindas que já vi no cinema, o amor entre duas crianças, o jogo de sedução entre elas, que com a timidez que lhe é própria da idade se vai desenvolvendo até à cena em que Deborah lhe lê o seu diário onde fala do seu amado e dão o primeiro beijo. Mas já aqui, ainda crianças, Deborah tem o sonho de chegar ao “topo”, como ela diz. Já nesta idade, Deborah tem consciência que terá que optar entre o amor e a carreira.


O fim do filme traz-nos duas incógnitas (embora a mim me traga só uma). Depois da conversa entre Noodles e Max (já como Senador Bailey), onde este lhe pede que o mate e faça justiça à traição por ele cometida, Noodles recusa fazê-lo. Trata-o sempre por Senador Bailey e ignora a questão de traição argumentando a veracidade da morte de Max, querendo demonstrar-lhe que já estava morto para ele há muito tempo, não tendo assim necessidade em matá-lo outra vez. Noodles vai-se embora e na rua olha para trás e vê Max indo em direcção a um triturador de lixo. Quando este camião passa completamente por Max, este já lá não está. Há quem considere que Max pode ter encenado a sua morte outra vez, mas fica a incerteza se ele não se teria matado realmente. A meu ver, Sergio Leone quis mostrar isso mesmo, deixar essa dúvida, pois Noodles estava a ver e quis mostrar que também ele ficou com a incerteza da morte de Max, mais uma vez. O filme acaba com Noodles deitado no teatro chinês (supostamente nos anos trinta) a fumar ópio e olhando para cima (para a câmara) sorrindo. Este sorriso final de Noodles deixa-me a mim mais duvidoso do que a questão da morte de Max. O que é que Leone nos quis dizer com este sorriso final? Tenho várias teorias plausíveis, mas nenhuma delas é certa, por isso, fica a dúvida, fica o mistério, mas não é isso que faz de “Once Upon A Time In America” um filme menor, pelo contrário, a dúvida que fica faz-nos pensar no filme e tentar compreender a visão de Sergio Leone, mesmo depois de o visionarmos várias vezes, pois a vida também é cheia de incertezas e nem por isso deixa de ser bela.
“Once Upon A Time In America “ é um grandioso clássico do cinema americano, uma linda história de um amor interrompido. Simplesmente magistral.








13 de março de 2009

LUNA PAPA (1999)


Rodado no Tadjiquistão, este “Luna Papa” conta-nos a história de Mamlakat (Chulpan Khamatova), uma órfã de dezassete anos que tem o sonho de ser actriz. Numa noite em que Mamlakat chega atrasada para ver uma peça de teatro, ela é seduzida por um actor que diz ser amigo de “Top” Cruise. Depois de fazer amor com o misterioso actor, num acto que nos é apresentado algo transcendente, este desaparece na noite escura. O resultado: Mamlakat engravida. A partir daqui, inicia-se a demanda de uma procura pelo estranho actor para restabelecer a dignidade da família. Mamlakat junta-se ao seu pai Safar (Mukhamedshanov) e ao seu irmão Nasreddin (Bleibtreu) nas mais variadas e incríveis aventuras enquanto procuram o pai da criança, Khabibulla (voz de Raykina) que conta a história na barriga da mãe.
Bakhtyar Khudojnazarov cria uma fábula onírica que oscila entre o real e a fantasia. As belas paisagens da Ásia Central servem de base para contar uma história onde o misticismo e as superstições das tradições de uma cultura se misturam com o stress e a confusão do mundo actual.





Quando se vê pela primeira vez este “Luna Papa” é-nos de imediato reconhecida a influência de Kusturica na construção narrativa e visual do filme. De facto, quem o vir sem saber o nome do realizador, pode muito bem pensar que se trata duma obra desse cineasta que tão bem conhecemos que é Emir Kusturica.
Mas “Luna Papa” não trata só de uma procura de uma honra perdida. Khudojnazarov fala-nos também de esperança e cria aqui um universo próprio em que tudo é permitido, desde a casa que voa graças a uma ventoinha, a chuva de uma vaca e o embrião que pensa e narra a história. O ambiente surreal e tragicómico que envolve toda a obra, a excelente fotografia de Martin Gschlacht, Dušan Joksimovic, Rostislav Pirumov e Rali Ralchev, a visão do cineasta sobre uma cultura e tradições de um país “perdido no mapa”, a música de Daler Nasarov e a excelente interpretação de Khamatova que já nos tinha brindado com a fabulosa Eva do magnífico “Tuvalu” de Veit Helmer, leva-me a considerar “Luna Papa” uma obra-prima do cinema asiático. Bakhtyar Khudojnazarov segue com este “Luna Papa” uma estética visual e narrativa na mesma linha de Kusturica, mas, quanto a mim cria uma fabulosa obra cinematográfica onde cada momento, cada cenário, cada personagem é fantástico e esplêndido na sua plenitude. Obra obrigatória para qualquer cinéfilo que se preze.



Aqui fica o trailer do filme (sem legendas) e a linda música de Nasarov.



12 de março de 2009

Renaissance







It's A Wonderful Life (1946)



“It’s A Wonderful Life (Do Céu Caiu Uma Estrela) ” é considerada a obra-prima de Frank Capra com toda a justiça. O filme é daquelas pérolas do cinema americano sentimental que comove qualquer pessoa que o veja. Este clássico do cinema americano data de 1946, num pós-guerra que talvez tenha levado a que, aquando do seu lançamento, tivesse sido um fracasso de bilheteiras, dividindo a crítica, onde houve quem o considera-se demasiado sentimental e lamechas. O filme obteve cinco nomeações para os Óscares, entre eles o de Melhor Filme, Melhor Realizador e Melhor Actor Principal, mas acabou por não ganhar nenhum e a muito custo conseguiu recuperar o seu valor em receitas de bilheteira.
Depois de combater na guerra, Capra regressou a Hollywood e criou a Liberty Films juntamente com William Wyler e George Stevens e foi então que Charles Koerner deu a conhecer a Capra o conto de Philip Van Doren Stern, "The Greatest Gift". Capra adorou-o e incumbiu a Albert Hackett e a Frances Goodrich a tarefa de escrever o argumento. O filme conta-nos a história de George Bailey (James Stewart), um homem cujo sonho de viajar pela Europa e conhecer o mundo não se realiza devido às adversidades da vida. Mas a vida encarregou-se de o compensar com o amor da sua vida, Mary (Donna Reed), com quem se casa e tem quatro filhos. No dia do seu casamento, George vê-se obrigado a assumir o controlo da empresa familiar, a fim de evitar que esta encerre ou caia nas mãos do banco. Durante alguns anos, inclusive na 2ª Grande Guerra, George encontra na empresa uma forma de ajudar os trabalhadores de Bedford Falls, construindo-lhe casas onde morarem e irem pagando conforme as possibilidades. É assim que Capra nos mostra a bondade, o altruísmo e a filantropia que existe no coração de George Bailey. No dia em que o seu irmão Harry (Todd Karns) regressa da guerra condecorado com uma medalha de honra, o seu tio Billy (Thomas Mitchell) perde o dinheiro para pagar as contas do banco no momento em que o ia depositar. Isto faz com que a situação de George fique extremamente complicada e a pequena empresa vá á falência. O desespero de George é tão grande que começa a pensar no suicídio e chega mesmo a tentá-lo. Quando está prestes a atirar-se de uma ponte, eis que surge Clarence (Henry Travers), um anjo de segunda classe que necessita salvar George para conquistar as suas asas. É a partir daqui que Clarence lhe mostra como seria a vida em Bedford Falls sem a sua existência, desde miséria, violência e perdição.
“It´s A Wonderful Life” é um clássico visionado tradicionalmente na época natalícia em todo o mundo. Filme familiar por excelência é belo e sentimental, negro e caricato, triste e alegre. Frank Capra disse após as rodagens que “It’s A Wonderful Life” era o melhor filme que ele ou alguém realizara. De facto é a sua obra-prima, mas não vamos tão longe.

8 de março de 2009

Todo Sobre Mi Madre (1999)

De Pedro Almodóvar





Il Postino - O Carteiro do Pablo Neruda (1994)



O cinema italiano possui o poder de tocar a alma e sem necessitar de grandes produções e efeitos especiais criam autênticas obras de arte inigualáveis a qualquer outro cinema. Tem uma magia que irradia e atinge aqueles que realmente apreciam um bom filme.
“Il Postino” (“O Carteiro do Pablo Neruda”) é um filme que marca qualquer bom amante do cinema. É daquelas obras-primas que nos fazem reflectir na vida, no amor, na amizade, na simplicidade...
O filme baseia-se na curta estadia do poeta Pablo Neruda (Philippe Noiret) numa pequena ilha italiana do Mediterrâneo, exilado por razões políticas, e na amizade que é criada entre ele e um carteiro quase analfabeto (Massimo Troisi). Este carteiro apaixona-se por Beatrice Russo (Maria Grazia) e incapaz de falar com ela pede ajuda ao poeta. Começa então a declamar-lhe poemas de amor para assim a conquistar.
“O teu sorriso espalha-se pelo teu rosto como borboletas. O teu sorriso é como uma rosa, uma lança descoberta, é o bater das águas. O teu sorriso é uma onda prateada repentina.” Pablo Neruda escreveu estes versos, mas é com eles que Mario se declara pela primeira vez a Beatrice.
O filme é um hino à poesia, ao amor, às metáforas e à amizade. É um filme romântico e lírico, mas muito diferente das megaproduções românticas de Hollywood. É um filme italiano e como tal não tem o poder de distracção de Hollywood, ficando assim reservado para um público-alvo mais selectivo e mais cuidado. É uma obra inesquecível e uma representação do que é a demanda pelo amor e pela felicidade.
Foi vencedor do Óscar de Melhor Banda Sonora e ainda foi nomeado para Melhor Filme, Melhor Realizador (Michael Radford), Melhor Actor (Massimo Troisi) e melhor Argumento Adaptado. A banda sonora, de Luis Enrique Bacalov é extremamente linda e existem cenas no filme que transmitem a sensação que foram feitas para a música, especialmente quando sincronizada com a poesia de Pablo Neruda.
Massimo Troisi está fabuloso no papel de Mario, o carteiro. A simplicidade que ele consegue demonstrar, própria de alguém que nunca saiu de um local e que quase não sabe ler nem escrever, a timidez de se expressar para o amor da sua vida, os momentos à janela a pensar em Beatrice, são pormenores que demonstram que Massimo esteve muito bem no papel de Mario. Doze horas após as filmagens, Massimo Troisi faleceu devido a problemas cardíacos.
“Il Postino” é um filme belo, romântico e dramático que faz sorrir e sensibiliza quem o veja.




7 de março de 2009

Rachel Getting Married (2008)



Quando se acaba de ver um filme como este fica-se sempre a reflectir na sua mensagem e no seu conteúdo. Jonathan Demme faz com este “Rachel Getting Married” uma reflexão ao comportamento humano em confronto com situações constrangedoras. O problema do álcool é analisado ao de leve, preferindo o cineasta fazer um ensaio mais profundo sobre a problemática familiar que advém desse flagelo. Jonathan Demme analisa-nos o comportamento humano de um indivíduo numa pós-desintoxicação e sua consequente reinserção no seu seio familiar.
Nesta obra, o casamento de Rachel (Rosemarie DeWitt) serve de base para aquilo que o cineasta quer verdadeiramente explorar nesta obra, a reinserção num ambiente familiar que tem por intuito ajudar mas que face a comportamentos estranhos a este ambiente acabam por recriminar quem de uma força incrível como a luta de uma desintoxicação (quer de álcool, quer de droga) é detentor. Depois de ter estado nove meses internada para se reabilitar, Kim (Anne Hathaway numa grande interpretação), está de volta a casa para comparecer ao casamento da irmã. É durante a sua breve estadia nos dias que antecedem esse evento que o seu comportamento vai criar situações constrangedoras para a sua família. É devido a essas situações que se cria um ambiente agressivo entre Kim e Rachel. É por causa do comportamento super-protector do pai (Bill Irwin) que Rachel vai sentir ciúmes de um tratamento que supostamente seria ela a receber e não Kim, já que é ela que se vai casar. É face à figura ausente da mãe (Debra Winger) que parece não se importar muito com as filhas que Rachel se comporta assim. É resultante de um acidente sob o efeito do álcool sofrido por Kim em que morre o seu irmão mais novo, que esta se culpa e tem tanta dificuldade em se reintegrar no meio familiar. É o medo de Kim em não conseguir superar o seu vício que a faz ter determinados comportamentos.
Jonatham Demme filma esta obra como se de o movimento Dogma 95 se tratasse. A câmara na mão, os closes muito próximos das personagens depois de variadíssimas situações constrangedoras, o ambiente familiar e de filme caseiro que este tipo de filmagem nos traz. O realizador pensou em tudo e todos estes factores contribuem para um maior interesse do filme e uma melhor relação entre argumento e filmagem. A música é toda ela “amadora”, bandas, ensaios, música de várias culturas….
O cineasta traz-nos assim uma reflexão à reintegração de um indivíduo no seio familiar, uma análise à sua conduta para com este meio e vice-versa, às suas dúvidas perante que caminho e lugar tomar e um ensaio dos comportamentos humanos em confronto com situações constrangedoras que tal indivíduo em tal condição possa provocar. Quanto a mim, Jonatham Demme deixa ainda a dúvida de como lidar com estas situações, com estes indivíduos que por muito que se esforcem em deixar para trás um vício e um passado constrangedor e miserável, estão constantemente em sintonia com uma recaída e uma lembrança de tal situação. A ausência de um conhecimento de que rumo seguir na sua vida por parte de Kim, mostra que a força que estes indivíduos adquirem para se livrarem de tal flagelo, é depois fracassada numa definição de um rumo futuro nas suas vidas.
“Rachel Getting Married” foi para mim uma agradável surpresa e é com convicção que afirmo que supera algumas obras reconhecidas e premiadas deste ano.

6 de março de 2009

O Festival Black & White está a chegar

O blog Preto e Branco orgulha-se de anunciar a partir de hoje a parceria com o Festival Black & White.



Depois de ter estado presente na 29ª edição do Fantasporto durante as Sessões de Abertura e Encerramento, o 6º Festival Audiovisual Black & White está agora cada vez mais perto de decorrer, com data prevista para os dias 22 e 25 de Abril.

Aqui ficam algumas imagens da presença de dois mimos que entreteram as noites das Sessões de Abertura e Encerramento da 29ª edição do Fantasporto. Entretanto, se quiserem ver mais fotografias é só consultar o myspace aqui.









O Festival Black & White está também no Twitter. É só clicarem aqui.

5 de março de 2009

Os Mutantes (1998)



Esta obra de Teresa Villaverde caracteriza-se pela sua crua e dura análise duma realidade social que abrange aqui três jovens inadaptados a essa realidade. “Os Mutantes” conta-nos a história de Andreia, brilhantemente interpretada por Ana Moreira, Pedro (Alexandre Pinto) e Ricardo (Nelson Varela). Estes três jovens são os “mutantes” que não se adaptam a uma realidade social onde lhes é imposta a permanência em centros de reinserção social em alternativa ao meio familiar agressivo onde cresceram. Teresa Villaverde pretendia fazer um documentário sobre essas crianças das instituições de reabilitação que crescem numa dura realidade bem diferente daquela que é suposta ser uma infância normal. Ao que parece, essa sua intenção em concretizar esse projecto foi-lhe negada.
O título do filme “Os Mutantes” identifica-se logo à partida com as personagens e os seus caminhos que parecem não ter um destino, a sua inadaptação à sociedade, os seus caminhos que conduzidos por vias sombrias os levam a destinos ainda mais negros, onde o crime é meio envolvente para um desfecho previsível de jovens inadaptados à sociedade e consequentemente inseridos num mundo delinquente que lhes traz uma liberdade desejada e um bem-estar procurado e ansiado que em centros de reinserção social lhes é negada. Mas mais ainda, essa inadaptação estende-se ao meio familiar onde tudo lhes é estranho e disfuncional, querendo assim parecer que o único local onde se sentem bem é na rua. A cineasta faz também uma reflexão à força interior desses jovens que lutando contra uma sociedade dura revelam um espírito de sobrevivência enorme. A cena do parto é particularmente dramática e visualmente impressionante. Nesta cena, bem como noutras, Ana Moreira transpõe para o ecrã todo um sofrimento, dor, angústia e desespero de parir sem ajuda. O abandono posterior do rebento, a fragilidade com que Andreia surge após o parto e o caminhar até ao seu desfalecimento mostram esse desespero e esse sofrimento de quem tentou lutar contra uma sociedade feroz e desumana que venceu mais uma alma errante e inadaptada neste mundo injusto.
Teresa Villaverde realiza um filme visualmente agressivo e onde é dado aos actores bastante espaço para triunfar, caso de Ana Moreira que tem aqui uma excelente interpretação, premiada nos Festivais de Taormina e Bastia.
“Os Mutantes” é uma obra-prima do cinema português que, infelizmente, têm cada vez menos espectadores. Por mim, vou continuar a desfrutar de cinema português com qualidade como esta obra de Teresa Villaverde.



3 de março de 2009

JAZZ - Parte II

E porque ando numa onda mais efervescente de Jazz aqui ficam dois vídeos de Pat Martino ao vivo na Umbria Jazz Winter em Orvieto na Itália com Joey Defrancesco no órgão e Byron Landham na bateria.





2 de março de 2009

JAZZ

E para os fãs do Jazz


Os grandes "senhores" do jazz, Miles Davis no trompete e John Coltrane no saxofone ao vivo em New York a 2 de Abril de 1959.
Espectáculo.




Agora outros dois "senhores" do jazz, Charlie Parker e Dizzy Gillespie.




E para acabar em beleza, o Segundo Grande Quinteto de Miles Davis em Estocolmo em 1968. Para quem não sabe, o Quinteto era formado por Miles Davis ao trompete, Wayne Shorter no saxofone, Herbie Hancock no piano, Ron Carter no baixo e Tony Williams na bateria. Aqui fica a Round Midnight.
Espero que gostem.

1 de março de 2009

TETRO



Aí está a nova obra de Francis Ford Coppola, dá pelo nome de Tetro e tem Vincent Gallo como protagonista. Confesso que estou ansioso para ver este novo trabalho de Coppola.
Aqui fica uma introdução do filme pelo próprio realizador.