29 de novembro de 2010

The Great Flamarion (1945)








Há em The Great Flamarion uma capacidade inexplicável de confundir o melodrama com o noir. Melodrama revisitado pelo noir ou noir revisitado pelo melodrama? Parece-me que, mais que noir (e as sombras, a femme fatale, o próprio enredo a isso atestam), The Great Flamarion é um melodrama. Porque é uma história de compaixão pelo criminoso (o anti-herói). Porque o que Mann quer mostrar é que há uma razão para o crime (ou até que a morta merecia aquele destino como diz uma mulher logo nos momentos iniciais). Porque o grande cerne é a traição que aquela mulher faz. Mas o mais importante em The Great Flamarion (além da realização de Mann) é a sobriedade com que o teatro se mistura com o cinema, a materialização da cena (os espectáculos de Flamarion e o do final principalmente). E mais algumas coisas...

26 de novembro de 2010


The Magnificent Seven (1960)













Boy Meets Girl (1984)












Boy Meets Girl é filme de quem ama a Nouvelle Vague, aliás, Carax deve ser o cineasta desta nova vaga francesa que mais procura a filosofia da Nouvelle Vague. Porque encontramos tanto de Godard, tanto de Rohmer ou de Truffaut neste filme que às tantas já nos esquecemos de que é um filme desta nova vaga francesa. Até o seu alter-ego (Alex, interpretado sempre por Lavant) lembra o Doinel de Truffaut.

Boy Meets Girl vagueia pelo mundo obsessivo de Carax. Primeira longa-metragem do cineasta, Boy Meets Girl conta a história de um aspirante a cineasta que se apaixona por uma jovem com tendências suicidas. Ambos (Alex e Mireille) vêm de relações falhadas, desilusões amorosas. E por isso, mais que obsessivo, o filme respira depressão por todos os poros. Daí a tragédia resultar naturalmente. A procura do amor de quem perdeu a esperança nele próprio e no futuro. Filme de questões e de procuras, filme da palavra e de lirismos. Filme de grandes planos, médios e enquadramentos, filme de olhares e de sombras. Para mim, o melhor filme de Carax.

25 de novembro de 2010

Les Amants du Pont-Neuf (1991)













História de amor (como de resto todos os filmes de Carax o são) a oscilar entre o romance e a obsessão. Passeia-se pela tragédia mas alcança a felicidade e a redenção. Mas nada de ligeirezas românticas. Físico até às entranhas numa relação quase "una" entre aqueles dois seres, um dependente do outro. Amor sim mas um amor louco, obsessivo (quase tanto como em Boy Meets Girl). Todo o cinema de Carax tem essa capacidade de extremar o sentido de amor. Nada é feito ao acaso em Carax. Por alguma coisa a doença de Michèle é nos olhos. A luz como metáfora para o amor, para a felicidade. Alex (nome reincidente no cinema de Carax, e sempre com Lavant) tudo faz por amor. E é por isso que é uma das mais belas histórias de amor dos últimos vinte anos. Nos filmes de Carax o amor é algo para se aprender e se conquistar, para crescer com a relação, com a comunicação e o conhecimento entre os dois amantes. Sim, nos filmes de Carax há uma desmesurada comunicabilidade, são filmes repletos de delírios, de existencialismos triviais. Existe ali (em todos os filmes do cineasta) uma força transcendental do amor e uma materialização da obsessão. Uma desesperante fuga à solidão. E aqui (muito mais do que em qualquer filme de Carax) há uma conquista do espaço (o décor) pelas personagens, uma transfiguração desse espaço pelas personagens, por aquilo que elas são capazes de fazer por ele (o espaço) e por si (as personagens). Um tipo de ligação. Les Amants du Pont-Neuf analisa o desenvolvimento dum amor explosivo, louco e obsessivo, o caminho para onde se dirige. O destino? Talvez, mas acima de tudo, o amor.

Les Temps Qui Changent (2004)

L’amour. O tempo, as mudanças e as suas transformações. O reencontro e a redescoberta do amor. É sobre isso que Téchiné nos fala. Não de um amor obsessivo como no cinema de Carax, ou da procura do amor como em Rendez-vous. Les Temps Qui Changent é sobre um amor passado, vivido. É sobre o “reacordar” do amor, redescobri-lo. As personagens, a relação das personagens, a distância de uns e a proximidade de outros, as suas escolhas. É sobre isso e só sobre isso. E por mais que aborde levemente (muito levemente) a problemática dos refugiados, Les Temps Qui Changent e só e só uma história de amor, uma história sobre o tempo e as transformações deste. A esperança do amor.

23 de novembro de 2010

Carax

Rendez-vous (1985)

Rendez-vous trata do nascimento de uma actriz, (e não, não falo de Binoche mas sim da personagem), da sua relação com o mundo, com a grande cidade (nova descoberta, novos horizontes, erros, caminhos confusos para alcançar o sonho que a fez sair da província). O cinema de Téchiné é muito físico, explosivo (mais ou menos como Carax), a relação entre as personagens é desmesuradamente próxima e psicologicamente violenta. Existe ali uma força brutal que conduz as personagens ao “abismo”. Tudo tão frio, conturbado e no limiar da tragédia. E o que me parece é que, mais que o destino, são as escolhas que fazem o cinema de Téchiné.

The Commitments (1991)





Já vi este filme há muitos anos, mas lembro-me bem daquilo que representou para mim. The Commitments é, e por muito que acarrete esperança e determinação, uma história de imutabilidade humana. Relacione-se (ou talvez não) tal coisa com a condição social e estabilidade económica do país (e por esse prisma teríamos de considerar o alcoolismo, tema recorrente em Parker). Porque, desde o início, o filme caminha para o abismo (mesmo atingindo o sucesso momentâneo). Por isso é filme de imutabilidades, de destino, de condições e de soul, muito soul. Está cá num cantinho especial (mas isso é outra conversa).