24 de junho de 2012

“Doctor Bull”, assim como tantos outros de Ford, é coisa tão humanística quanto as mais sagradas bíblias do mundo, “in fact”, tudo em “Doctor Bull” anseia pelo humano (demasiado humano?) vs a idealização/perfeição do doutor. A isso vai reclamar o povo que mete o nariz onde não é chamado (mas isso são coisas inatas ao povo), povo ingrato e sobretudo olvidado não só do passado mas também do presente dum homem que tudo dá pelos seus. Patriotismos à parte (coisa rara em Ford), sentido nostálgico e de nobreza e de justeza a encher a tela, filme sobre um homem, daqueles homens típicos das pequenas localidades que se desdobram em vários para acudir este e aquele e aqueloutro, espécie de “pronto socorro” lá do sítio, daqueles médicos antigos que tratavam os doentes como familiares (coisas de outrora, de tempos antigos que contrastam com os de hoje), laços criados entre médico e pacientes, história desse homem que se vê mergulhado, ao fim duma vida inteira ao serviço da comunidade, numa injustiça também ela típica dessas cidades pequenas. E ali, New Winton, sítio de ninguém onde ninguém desce do comboio, apenas o jornal, terra de intrigas como tantas outras por esse mundo fora, por aí foi ficando o doutor provinciano, anos e anos a trazer ao mundo uns e outros até que por causa do “affair” com Mrs. Janet o “seu” povo se agite contra ele, até que o tifo lhe ponha em causa a sua capacidade e o assombre como em tantos outros de Ford o homem é assombrado.

Ford, Ford, Ford. O humanismo não foge, não se revolta e se converte em ódio ou rancor, não, nada de negruras ou de ambiências caóticas, tudo é lírico e moralista, mesmo depois de tudo Bull só quer erguer-se e “recuperar” as pernas de Joe, mesmo depois de tudo ele continua a dizer que é apenas um veterinário, é tudo a pisar os seus terrenos (os de Ford), valores morais gritam mais alto que a injustiça e a falsidade, há sempre humanismo e sempre alguma candura no cinema de Ford. A simplicidade é coisa valiosa.

Sem comentários: