7 de março de 2013

O mais importante é a negrura do filme, o ambiente negro e todo o lado sombrio e obscuro que Visconti nos mostra, são coisas da matéria que transmitem não só o horror como a amargura do homem, confinamento quase total às sombras e à escuridão da solidão, “Gruppo di Famiglia in un Interno”, que tal como “Il Gattopardo” busca tanto a aristocracia como a solidão e a rigidez e a firmeza dum homem, é filme de coisas obscuras e obsessivas, da escuridão e do isolamento da alma, do acomodamento dum velho à “segregação” e à solidão. E nessa negrura que aquele velho professor resignado e refugiado se envolve dia após dia irrompe o burlesco e a vivacidade não só da jovialidade como da leviandade, coisa que ainda assim Visconti parece dignificar e capaz de ser alternativa à obscuridade e à amargura da solidão, é da leviandade que a jovialidade e sobretudo a sociabilidade é alcançada, sejamos sinceros, aquela gente nada deve à moralidade ou à lealdade, antes sim à podridão do capitalismo e da alma que tudo corrompe.

Mesmo assim Visconti quer reprimir a solidão, nada mais há que se lhe assemelhe e por isso todo aquele “circo” montado por aquela gente é um escape e um libertar do solitário e do refugiado ser que há no professor. Aos poucos vai-se agradando da ideia de serem uma família, ou pelo menos uma certa curiosidade, aos poucos porque o que eles - Konrad e a marquesa e a filha e o seu namoradinho - são, barra-lhe a sua abertura e a aceitação total, o desprezo que sente por eles vai-se diluindo numa certa solidariedade e num forte desejo de paternalidade para com Konrad. O espaço é tudo, assim como a escuridão da reclusão do velho professor, é o seu espaço que vai sendo invadido, tumultuado, deformado rumo ao caos. Transformação total, o tal acordar dum sono profundo (como a morte).

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